terça-feira, 10 de maio de 2011

Meu filho fala “elado”

Por: Vanessa Cicatti
Todo mundo acha bonitinho quando uma criança fala igual ao personagem Cebolinha.
No início, isso é realmente gracioso, mas você já parou para pensar nas consequências causadas por esse problema de fala na vida do seu filho?

O começo de tudo

Falar é uma das principais formas de expressão e, como tudo na vida de um bebê, tem um momento apropriado para acontecer. Por essa razão, para falar, a criança precisa
estar fisicamente pronta, e isso depende da evolução de sua inteligência, já que para isso é necessário que consiga ordenar seus pensamentos. O início da fala geralmente
ocorre por volta 
 de um ano de idade, mas como depende do desenvolvimento da criança, pode ocorrer até que atinja um ano e meio.
Quando o baixinho começa a falar, pronuncia sons diferentes que para ele têm um significado próprio. Assim, ao balbuciar “mama” para mamãe, por exemplo, ele estabelece que cada palavra precisa de uma sucessão de sons diferentes para ser articulada e que cada palavra significa uma coisa.
Normalmente, as primeiras palavras da criança são recebidas com muita excitação pelos
pais, afinal esta é a primeira etapa de um longo processo que vai introduzir a criança na
sociedade.
Não é novidade para ninguém que ao pronunciar essas primeiras palavras é comum o
pequeno cometer erros e omissões, desenvolvendo um vocabulário cheio de palavras
diferentes e divertidas, que muitas vezes lembram a fala do Cebolinha, da Turma da
Mônica. Entretanto, a mesma fala do personagem que nos encanta também pode ser
motivo de preocupação em alguns casos. Afinal, na vida real isso pode se tornar motivo
de gozação para a criança.
Para ficar por dentro desse assunto, batemos um papo com as fonoaudiólogas Renata
Matulja Soneghet e Ana Lucia Artoni Kozonara e, aqui, trazemos para você algumas
dicas de como detectar e lidar com os problemas de fala do seu filho.

Trocando letras
Renata Soneghet e Ana Lucia Kozonara explicam que os problemas mais comuns de fala
são os atrasos. Por exemplo, é esperado que, até uma determinada idade, a criança
troque o R pelo L, pois as estruturas utilizadas para a fala ainda não estão “maduras”
para produzirem o som corretamente. Mas passado esse período, essas trocas deixam
de ser “normais” e é caracterizado o atraso de fala.
Diante disso nos perguntamos: Até que idade é comum a criança trocar as letras das
palavras?
“Quando essas trocas acontecem aos dois ou três anos de idade, normalmente não
acarretam consequências. Em geral, a criança passa a falar corretamente, sozinha.
Entretanto, quando a imprecisão perdura além dos quatro ou cinco anos, a situação é
outra. Nessa idade, ela além de ir à escola, já tem um convívio social maior e pode virar
objeto de brincadeiras dos amiguinhos ou de repreensão por parte de terceiros”, explica
Ana Lucia Kozonara.
Segundo Renata Soneghet, “há muitas causas para as trocas na fala, mas as mais
comuns são: deficiências auditivas (mesmo que de grau leve ou temporário),
imaturidade neurológica ou emocional e alterações na musculatura das estruturas que
produzem a fala (como lábios, língua e bochechas, por exemplo). A criança pode falar
errado por “ouvir errado ou de forma distorcida” ou simplesmente “não ouvir” o que
lhe é dito. Há vários tipos de afecções de ouvido temporárias ou permanentes que não
necessariamente causam dor ou outro sinal de desconforto e podem ter repercussões
na produção oral. Por essa razão, o otorrinolaringologista deve ser consultado”.
Também é importante ressaltar que a textura e a consistência dos alimentos oferecidos
à criança podem repercutir no tônus da musculatura da fala. É importante respeitar as
trocas de consistências orientadas pelo pediatra para que a criança receba alimentos
que exijam a mastigação e a movimentação ativa dessas estruturas.
Muitas pessoas associam o problema com a timidez da criança. Ana Lúcia Kozonara
desmistifica essa impressão, explicando que a criança tímida não tem maior
possibilidade de desenvolver trocas na fala. Entretanto, por conta da timidez, será uma
menina ou menino que fala pouco e tem receio de se expor verbal e publicamente;
mas isso não significa que ao falar, apresentará problemas de fala. Contudo, é fato que
as crianças mais comunicativas acabam exercitando mais a fala, ampliando com mais
facilidade as trocas de informações e de vocabulário.

Tudo tem solução
“De maneira geral, é preciso que os pais estejam sempre atentos ao desenvolvimento
da fala da criança para que ao identificarem um eventual desvio, possam procurar ajuda
especializada. Com relação à produção oral, o ideal é que as trocas sejam eliminadas
antes do processo de alfabetização. Se por volta dos cinco anos, a criança ainda não fala
corretamente, provavelmente é o momento de intervir.”
Se você tem um filhinho que fala como o Cebolinha, não se desespere, pois para a
maioria dos problemas de fala existe tratamento.
Para esses pais, as fonoaudiólogas ensinam como lidar com o filho. “O melhor a fazer
é sempre repetir de forma correta a palavra pronunciada errada pela criança. Por
exemplo, se ela falar: ‘Quelo fer a fofó!’, nós devemos falar: “Ah, sim, querida, você
quer ver a vovó? Vamos ver se ela está em casa...”. Assim, garantimos que ela teve
a oportunidade de ouvir a palavra corretamente. Não se deve dizer que está falando
errado, nem ficar pedindo para que ela repita a palavra de forma correta, pois nem
sempre ela será capaz de fazê-lo de outra forma.”
Se por acaso, as trocas persistirem, o ideal é procurar um especialista para a
identificação da causa do problema de fala, avaliação e terapêutica apropriada.
O que não pode ocorrer é a criança ficar sem tratamento, uma vez que os problemas de
fala podem causar problemas de aprendizado e prejuízos no convívio social com outras
crianças.
Diante disso, cabe aos pais ficarem atentos à fala dos filhos, SEMPRE! E, se por acaso
seu filho fala como o Cebolinha, saiba que há três passos importantes para lidar com
esse caso:

• forneça sempre os padrões corretos de fala à criança;

• não force a criança a repetir a palavra corretamente;

• não exponha as dificuldades da criança para outras pessoas.

Seguindo essas dicas, com certeza, sua vida e a do seu filho serão muito melhor!

Informações dos especialistas:

Renata Matulja Soneghet é fonoaudióloga, formada pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. É especialista em Voz e coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital Albert Einstein.
Consultório:
Al. Jaú, 1767 – 1o andar – Jd. Paulista – São Paulo – SP Tel.: (11) 3088-0094
Ana Lucia Artoni Kozonara é fonoaudióloga, formada pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. É mestre e especialista em Distúrbios da Comunicação Humana e fonoaudióloga do Centro de Reabilitação do HIAE.
Consultório:
Rua Carlos Petit, 161 – cj. 31 – Vila Mariana – São Paulo – SP Tel.: 5574-6126

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