segunda-feira, 23 de maio de 2011

Criança e TV: tudo a ver!

Por: Vanessa Cicatti
Quando a televisão foi inventada, muitos acharam que ela seria apenas mais um eletrodoméstico para encher a sala de estar. Mas, com o passar dos anos, ela se tornou um dos principais meios de comunicação.
Num mundo moderno como o nosso, quando bem explorada, a televisão exerce mais que o papel de entretenimento. E é por essa razão que criança e TV tem tudo a ver!
Pequenos telespectadores em desenvolvimento
Você pode fazer o que quiser para evitar, mas, em algum momento, seu filho vai colocar os olhinhos naquela caixa que solta sons e imagens coloridas e a paixão será inevitável. E, aí, com certeza, vão surgir na sua cabeça algumas dúvidas básicas: deixo ou não deixo meu filho assistir à televisão? Será que meu filhinho vai receber mensagens sobre violência ou se esquecer de brincar?
Atualmente, essas preocupações não passam de puro exagero. Afinal, a TV não é o monstro que muitos pais e alguns educadores imaginam. Tudo depende do uso que se faz dela.
Claudemir Edson Viana, especialista em Educomunicação e pesquisador do Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação explica que a televisão pode ser usada no desenvolvimento e aprendizado das crianças de duas formas:
De maneira informal: a família pode aproveitar o conteúdo da programação televisiva assistida pela criança para dialogar a respeito de como ela interpreta o que vê e saber o porquê de suas escolhas.
De maneira mais formal: na escola, a programação televisiva, sobretudo a de preferência dos alunos, pode ser utilizada pelos educadores para abordar temas relacionados ao currículo escolar a partir do que um determinado programa de preferência pelas crianças traz em seu conteúdo ou em seu formato (som, imagens) e, assim, também promover a aprendizagem entre os alunos sobre alguns elementos básicos da linguagem televisiva, contribuindo para a educação dos meios de comunicação, ou seja, os alunos desenvolverão a capacidade de leitura mais crítica sobre a programação televisiva.
Sandra Cabeza, psicóloga e assessora de coordenação pedagógica do Colégio Elvira Brandão, fala sobre o papel da televisão na escola, dizendo que existem programações capazes de ensinar conteúdos positivos, favorecendo resultados benéficos. “Esses programas podem ensinar várias habilidades acadêmicas, como incentivo à leitura, aumento do vocabulário, fortalecimento do raciocínio lógico-matemático e estímulo da criatividade. Além disso, também estimulam o conhecimento em diversas áreas como história, arte, música, ciência etc. As crianças também podem aprender formas de comportamento positivo como cooperação, empatia, persistência e respeito. Enfim, uma série de coisas positivas.”
Na frente da TV por tempo determinado!
Como tudo na vida, é preciso evitar os exageros. Dessa forma, a criança não deve ficar na frente da telinha o dia inteiro. “O tempo contínuo determinado para uma criança assistir à televisão, de forma que não a prejudique, é algo relativo. Mas, de forma geral, pode-se dizer que não deve passar de duas horas. O ideal é que a criança assista à programação televisiva de sua preferência de forma alternada a outras atividades lúdicas, de estudos ou de outro gênero. Isso evita que a televisão se torne o único meio de sua ludicidade ser exercitada ou de tê-la como fonte de informação. A diversidade das atividades é algo positivo para o desenvolvimento da criança e a TV ou o videogame pode ser parte do conjunto”, ressalta Claudemir Viana.
Embora não exista um horário adequado para a criança assistir à televisão, Claudemir Viana acredita que “horário inadequado é aquele que impede a criança de dormir no horário indicado, ou seja, por volta das 22 horas, principalmente se for uma criança que tem atividades logo pela manhã, como estudos ou esportes”.
Programas escolhidos a dedo!
Um fator superimportante para garantir que a TV contribua para o desenvolvimento da criança é a seleção dos programas que ela pode assistir. E isso deve ser feito pelos pais ou pelo adulto responsável por sua educação.
Claudemir Viana dá algumas dicas para os pais fazerem a seleção do conteúdo para seus filhos. “Naturalmente, a seleção do conteúdo deve se dar primeiramente em relação à idade da criança e à sua capacidade cognitiva, mas devem ser evitadas programações que façam apologia do sexo, das drogas e da violência.” Entretanto, o pesquisador reconhece que quando isso aparece num determinado programa assistido pela criança, “essa se torna uma boa oportunidade de os pais dialogarem com seus filhos a respeito do assunto e, conforme a condição de compreensão, isso contribui para a percepção adequada que eles devem ter sobre os referidos assuntos e, até mesmo, favorece o diálogo da criança a respeito do que pensa, contribuindo para sua formação moral”.
Para o pesquisador, é um equívoco imaginar que o ideal seja proibir que a criança tenha acesso a determinados conteúdos por crer que isso é uma forma de proteção. O correto é dialogar com ela a respeito, justificando o porquê não é legal que assista determinado programa. Uma posição radical dos pais pode contribuir para a alienação da criança ou mesmo aguçar seu desejo de ver tal programação em outro momento e lugar, sem a presença deles. O que acaba sendo pior.
Nada de criança sozinha na frente da TV!
Os especialistas não recomendam que as crianças fiquem diante da televisão sem a companhia de um adulto. Em primeiro lugar, são os pais que controlam o conteúdo que os filhos vêem. Além disso, a presença do papai e da mamãe “dará oportunidade de discutir o assunto com a criança. É importante que os adultos sejam ativos: falem e façam conexões com seus filhos enquanto assistem ao programa”, afirma Sandra Cabeza.
Claudemir reforça, explicando que “esta é mais uma forma de os pais participarem e conhecerem melhor a cultura de seu filho, e até expor a ele as suas opiniões sobre determinados assuntos decorrentes do que foi assistido. Este diálogo é positivo, mesmo que seja numa outra oportunidade que não no momento do programa, pois sabemos que na maioria das vezes os pais não têm tempo disponível para estar junto aos filhos vendo tudo o que eles assistem”.
Além disso, nos dias atuais, em que a falta de tempo impede muitos pais de conviverem mais tempo com os filhos, assistir à TV ao lado deles pode ser uma forma de aproximação da família. “Assistir à televisão com a criança recupera essa interação, pois os pais podem ter um momento único com seus filhos, trocar informações a respeito do programa, além de ter mais contato físico com eles”, ressalta a psicóloga.
Mas há algumas recomendações para que a televisão não separe os familiares: evite colocá-la em lugares importantes como a sala e não ligue o aparelho nos horários da refeição; utilize esse tempo para conversar e manter contato com seu filho.
Informações dos especialistas:
Sandra Cabeza é formada em psicologia pela Universidade Paulista. É psicóloga e assessora de Coordenação Pedagógica do Colégio Elvira Brandão.
Colégio Elvira Brandão:
Rua Luiz Seraphico Jr., 158 – Chácara Santo Antônio – São Paulo – SP
Tel.: (11) 5641-1771
Claudemir Edson Viana é historiador, formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É mestre e doutor em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Especialista em Educomunicação, também é pesquisador do Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação.
LAPIC – Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação:
Av. Prof. Luiz Martins Rodrigues, 443 – bl. 22 – sl. 16 – Cidade Universitária – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3091-4317

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