Quando a
televisão foi inventada, muitos acharam que ela seria apenas mais um
eletrodoméstico para encher a sala de estar. Mas, com o passar dos anos, ela se
tornou um dos principais meios de comunicação.
Num mundo
moderno como o nosso, quando bem explorada, a televisão exerce mais que o papel
de entretenimento. E é por essa razão que criança e TV tem tudo a ver!
Pequenos
telespectadores em desenvolvimento
Você pode
fazer o que quiser para evitar, mas, em algum momento, seu filho vai colocar os
olhinhos naquela caixa que solta sons e imagens coloridas e a paixão será
inevitável. E, aí, com certeza, vão surgir na sua cabeça algumas dúvidas
básicas: deixo ou não deixo meu filho assistir à televisão? Será que meu
filhinho vai receber mensagens sobre violência ou se esquecer de brincar?
Atualmente,
essas preocupações não passam de puro exagero. Afinal, a TV não é o monstro que
muitos pais e alguns educadores imaginam. Tudo depende do uso que se faz dela.
Claudemir
Edson Viana, especialista em Educomunicação e pesquisador do Laboratório de
Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação explica que a televisão pode
ser usada no desenvolvimento e aprendizado das crianças de duas formas:
• De
maneira informal: a família pode aproveitar o conteúdo da programação
televisiva assistida pela criança para dialogar a respeito de como ela
interpreta o que vê e saber o porquê de suas escolhas.
• De
maneira mais formal: na escola, a programação televisiva, sobretudo a de preferência
dos alunos, pode ser utilizada pelos educadores para abordar temas relacionados
ao currículo escolar a partir do que um determinado programa de preferência
pelas crianças traz em seu conteúdo ou em seu formato (som, imagens) e, assim,
também promover a aprendizagem entre os alunos sobre alguns elementos básicos
da linguagem televisiva, contribuindo para a educação dos meios de comunicação,
ou seja, os alunos desenvolverão a capacidade de leitura mais crítica sobre a
programação televisiva.
Sandra
Cabeza, psicóloga e assessora de coordenação pedagógica do Colégio Elvira
Brandão, fala sobre o papel da televisão na escola, dizendo que existem
programações capazes de ensinar conteúdos positivos, favorecendo resultados
benéficos. “Esses programas podem ensinar várias habilidades acadêmicas, como
incentivo à leitura, aumento do vocabulário, fortalecimento do raciocínio
lógico-matemático e estímulo da criatividade. Além disso, também estimulam o
conhecimento em diversas áreas como história, arte, música, ciência etc. As
crianças também podem aprender formas de comportamento positivo como
cooperação, empatia, persistência e respeito. Enfim, uma série de coisas
positivas.”
Na frente
da TV por tempo determinado!
Como tudo
na vida, é preciso evitar os exageros. Dessa forma, a criança não deve ficar na
frente da telinha o dia inteiro. “O tempo contínuo determinado para uma criança
assistir à televisão, de forma que não a prejudique, é algo relativo. Mas, de
forma geral, pode-se dizer que não deve passar de duas horas. O ideal é que a
criança assista à programação televisiva de sua preferência de forma alternada
a outras atividades lúdicas, de estudos ou de outro gênero. Isso evita que a
televisão se torne o único meio de sua ludicidade ser exercitada ou de tê-la
como fonte de informação. A diversidade das atividades é algo positivo para o
desenvolvimento da criança e a TV ou o videogame pode ser parte do conjunto”,
ressalta Claudemir Viana.
Embora não
exista um horário adequado para a criança assistir à televisão, Claudemir Viana
acredita que “horário inadequado é aquele que impede a criança de dormir no
horário indicado, ou seja, por volta das 22 horas, principalmente se for uma
criança que tem atividades logo pela manhã, como estudos ou esportes”.
Programas escolhidos
a dedo!
Um fator
superimportante para garantir que a TV contribua para o desenvolvimento da
criança é a seleção dos programas que ela pode assistir. E isso deve ser feito
pelos pais ou pelo adulto responsável por sua educação.
Claudemir
Viana dá algumas dicas para os pais fazerem a seleção do conteúdo para seus
filhos. “Naturalmente, a seleção do conteúdo deve se dar primeiramente em
relação à idade da criança e à sua capacidade cognitiva, mas devem ser evitadas
programações que façam apologia do sexo, das drogas e da violência.”
Entretanto, o pesquisador reconhece que quando isso aparece num determinado
programa assistido pela criança, “essa se torna uma boa oportunidade de os pais
dialogarem com seus filhos a respeito do assunto e, conforme a condição de
compreensão, isso contribui para a percepção adequada que eles devem ter sobre
os referidos assuntos e, até mesmo, favorece o diálogo da criança a respeito do
que pensa, contribuindo para sua formação moral”.
Para o
pesquisador, é um equívoco imaginar que o ideal seja proibir que a criança
tenha acesso a determinados conteúdos por crer que isso é uma forma de
proteção. O correto é dialogar com ela a respeito, justificando o porquê não é
legal que assista determinado programa. Uma posição radical dos pais pode
contribuir para a alienação da criança ou mesmo aguçar seu desejo de ver tal
programação em outro momento e lugar, sem a presença deles. O que acaba sendo
pior.
Nada de
criança sozinha na frente da TV!
Os
especialistas não recomendam que as crianças fiquem diante da televisão sem a
companhia de um adulto. Em primeiro lugar, são os pais que controlam o conteúdo
que os filhos vêem. Além disso, a presença do papai e da mamãe “dará
oportunidade de discutir o assunto com a criança. É importante que os adultos
sejam ativos: falem e façam conexões com seus filhos enquanto assistem ao
programa”, afirma Sandra Cabeza.
Claudemir
reforça, explicando que “esta é mais uma forma de os pais participarem e
conhecerem melhor a cultura de seu filho, e até expor a ele as suas opiniões
sobre determinados assuntos decorrentes do que foi assistido. Este diálogo é
positivo, mesmo que seja numa outra oportunidade que não no momento do
programa, pois sabemos que na maioria das vezes os pais não têm tempo
disponível para estar junto aos filhos vendo tudo o que eles assistem”.
Além
disso, nos dias atuais, em que a falta de tempo impede muitos pais de
conviverem mais tempo com os filhos, assistir à TV ao lado deles pode ser uma
forma de aproximação da família. “Assistir à televisão com a criança recupera
essa interação, pois os pais podem ter um momento único com seus filhos, trocar
informações a respeito do programa, além de ter mais contato físico com eles”,
ressalta a psicóloga.
Mas há
algumas recomendações para que a televisão não separe os familiares: evite
colocá-la em lugares importantes como a sala e não ligue o aparelho nos
horários da refeição; utilize esse tempo para conversar e manter contato com
seu filho.
Informações dos especialistas:
Sandra Cabeza é formada em
psicologia pela Universidade Paulista. É psicóloga e assessora de Coordenação
Pedagógica do Colégio Elvira Brandão.
Colégio Elvira
Brandão:
Rua Luiz Seraphico Jr., 158 – Chácara Santo
Antônio – São Paulo – SP
Tel.: (11) 5641-1771
Claudemir Edson Viana é historiador,
formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo. É mestre e doutor em Comunicação pela Escola de Comunicação e
Artes da Universidade de São Paulo. Especialista em Educomunicação, também é
pesquisador do Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e
Comunicação.
LAPIC – Laboratório de Pesquisas sobre Infância,
Imaginário e Comunicação:
Av. Prof. Luiz Martins Rodrigues, 443 – bl. 22 –
sl. 16 – Cidade Universitária – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3091-4317
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