quinta-feira, 9 de junho de 2011

Eu quero meu ursinho!

Por: Vanessa Cicatti
Você se lembra do Linus, uma personagem da turma do Charlie Brown que vivia para lá e para cá com seu cobertorzinho azul? Pois é, ele é um dos principais representantes dos baixinhos que contam com a ajuda de seu ursinho de pelúcia, cobertorzinho ou travesseirinho, os chamados “objetos transicionais” para lidar com a angústia causada pela separação da mamãe, independentemente do motivo.  Quer entender por que seu filho não desgruda do urso de pelúcia? Então leia a seguir!

Entendendo o que é objeto transicional
Travesseirinho encardido e ursinho de pelúcia velho são os melhores amigos do seu bebê até quando ele está dormindo? Não adianta torcer o nariz para esses “verdadeiros tesouros” do baixinho, porque, de acordo com os especialistas, esses objetos são realmente valiosos para o seu filho.
Na década de 1950, o pediatra e psicanalista Donald Winnicott estudou a fundo a relação mãe-bebê e concluiu que esse paninho ou bichinho, denominado “objeto transicional” desempenha um papel fundamental na vida do pequeno a partir dos 5/6 meses de idade. Tudo isso porque essa fase é crucial, afinal, trata-se do momento em que o recém-nascido começa a perceber que existe
uma diferença entre ele e a mamãe, pois, até então, na sua cabecinha, ambos eram “uma coisa só”.
De acordo com a psicóloga Juliana Ricco Morillo, o objeto de transição ou objeto transicional pode ser qualquer objeto escolhido pelo nenê que o auxilia em seu desenvolvimento, principalmente quando ele está vivenciando a fase da “angústia de separação” de sua mãe.
“A partir de 5/6 meses, a criança começa a perceber o mundo externo e o objeto transicional funciona como se fosse um “pedacinho de sua mãe”, dando-lhe segurança e reduzindo sua ansiedade, permitindo que ela experiencie novas situações e esteja em contato com outras pessoas suportando a ausência da mãe. Eleger um objeto e tê-lo à mão sempre que sentir necessidade traz à criança uma sensação de segurança e poder, é uma forma de “controlar” algo num mundo onde sente que não tem controle algum.

Importante para lidar com as emoções
Como vimos, o objeto transicional é muito importante para um bebê. Afinal, sentimentos como medo, tristeza, angústia e solidão são algumas emoções vividas pelo pequenino nessa fase.
Dessa forma, para lidar com isso, o pequeno precisa sentir que existe algo ou alguém com ele que o defenda dessas ansiedades sempre que necessário. “Sem dúvida, a mãe é a melhor forma de acalmar a ansiedade de seu filho, porém nem sempre sua presença é possível, daí a importância do objeto de transição, pois ele traz uma sensação de conforto, de segurança, de ter algo conhecido mesmo que a criança esteja em um ambiente estranho”, explica a psicóloga.
Geralmente, a criança faz uso de seu objeto escolhido em:
• situações desconhecidas;
• na ausência dos pais;
• em momentos de tristeza ou
• quando vai dormir.
“Além de supernatural, é importante a criança fazer uso do objeto de transição para que possa passar de fase de maneira segura e desenvolver-se emocional e intelectualmente de forma sadia”, completa Juliana Morillo.

Escolhendo o companheirinho ideal
Para combater essa angústia danada causada pela percepção de que a mamãe não é parte de si, o nenezinho precisa encontrar o companheiro ideal. Mas será que o papai e a mamãe podem ajudá-lo nessa tarefa?
Juliana Morillo explica que o objeto de transição tem um valor emocional para o baixinho, pois ele adquire afeto por ese artefato, que será uma “companhia segura” em momentos difíceis. Portanto, é comum que a própria criança escolha o objeto.
“Os pais podem auxiliar nessa escolha deixando brinquedos próximos da criança quando eles precisam estar longe dela como, por exemplo, quando vão trabalhar. Mas é importante que não fiquem ansiosos para que o filho eleja rapidamente seu objeto, pois ela só fará isso quando sentir necessidade; aí vai se apegar ao que fizer sentido para ele.”
Geralmente, as crianças se apegam a algum boneco ou bichinho de pelúcia, mas também podem escolher um paninho, uma fraldinha ou um cobertorzinho. A chupeta também pode se transformar em objeto transicional, funcionando como se fosse o seio da mãe.
A psicóloga lembra que o famoso “amigo imaginário” (tema tratado da edição no  2 da Primeiros Passos) não é teoricamente um objeto de transição, pois não se trata de um objeto real, mas esse “amiguinho” desempenha a mesma função de um objeto de transição, só que com uma diferença: ele “aparece” na vida das crianças a partir de 2/3 anos de idade.

Companhia por tempo determinado
Não existe uma idade certa para o pequeno deixar o objeto transicional, mas é comum utilizar esse objeto somente na idade pré-escolar, ou seja, até os 5 ou 6 anos.
“Conforme a criança vai se desenvolvendo, o objeto de transição deverá ser trocado naturalmente por outras brincadeiras, que serão a nova forma de ela ‘resolver’ seus conflitos e angústias”, afirma Juliana Morillo.
A psicóloga alerta que é importante os pais observarem se o baixinho deixa de brincar com outras brincadeiras e outras crianças para ficar e brincar somente com o objeto escolhido. Segundo ela, “esse comportamento indica que ela não está conseguindo se desenvolver emocionalmente como deveria. E, nesses casos, é importante que os pais procurem uma orientação profissional”.

Enxergando a importância do objeto transicional
Pode ser que antes de ler esta matéria você achasse desnecessário seu filho andar por aí arrastando seu ursinho ou fraldinha prediletos. Agora que já sabe quantos benefícios isso traz para o desenvolvimento dele, precisa aprender a lidar com essa “companhia”.
Para a psicóloga, “o principal papel dos pais é reconhecer a importância do objeto transicional para o filho, permitindo que ele possa carregá-lo para onde sentir necessidade”.
Outro ponto importante que os pais devem observar diz respeito à limpeza do objeto de transição. “Como ele funciona como algo que a criança tem controle, conhece e lhe dá segurança, é importante que os pais não o limpem nem o modifiquem sem que ela saiba, pois isso pode fazer com que ela não o reconheça mais como seu objeto.
Quando se trata de uma criança maior, pode-se tentar acordos com ela para limpar o brinquedo, mas só o limpe se houver consentimento. Quando se trata de um bebê, é melhor conservar o objeto como está para que sua experiência com ele não seja rompida”.
Apesar de aceitar e incentivar o uso do objeto de transição, com o passar do tempo, os pais devem ajudar o filhote a encontrar outras formas de aliviar suas tensões, além do uso desse objeto.
“Ensiná-lo a brincar, propor novas brincadeiras, estimulá-lo a ter contato com outras crianças são algumas formas de prevenir que seu filho só consiga se acalmar com a presença desse objeto.” Embora ele seja muito importante nessa fase de transição, a criança não pode depender dele por muito tempo. Mas, com todas essas dicas, certamente você conseguirá ajudar seu anjinho a se desvencilhar desse companheirinho e desenvolver-se emocional e intelectualmente bem!

Informações do especialista:
Juliana Ricco Morillo é psicóloga formada pela Universidade Mackenzie. É especializada em terapia familiar e de casal pela Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo.

Consultório:
Rua Padre Estevão Pernet, 346 – Tatuapé – São Paulo – SP
Tel.: 11 2093-9534

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