sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A realidade do faz de conta


Era uma vez uma criança que cresceu em meio a bruxas, super-heróis, castelos e fadas. Embora ainda não soubesse compreender o que aquele monte de letrinhas diziam, bastava apenas sentir a magia da fábula narrada pela mamãe ou pelo papai para mergulhar em um mundo descobertas e crescer feliz para sempre.

Bonita história, não? Assim como nos contos de fadas, a história da vida do seu filhote também pode ter final feliz. Basta estimular a imaginação do pequeno desde o berço.

Era uma vez...

Existem várias formas de estimular a imaginação das crianças, mas nada é tão fantástico e benéfico como a arte de contar historinhas. E mais que isso, também facilita o aprendizado das crianças.

Segundo a psicóloga Daniela Levy, quanto mais rica for a história, mais estimulará a criatividade e o aprendizado. Com as diversas situações e personagens diferentes do mundo do faz-de-conta, a imaginação da criança é estimulada, assim como o desenvolvimento da linguagem.

A psicopedagoga Larissa Fonseca, da escola bilíngue Tiny People, complementa afirmando que as histórias abrem diversas perspectivas de pensamento para a criança. A diversidade de gêneros e repertório das historinhas possibilitam a ampliação das experiências imaginárias que ela vive, estimulando assim sua criatividade.

Você deve estar pensando: por que simplesmente ouvir histórias durante a primeira infância facilita o aprendizado dos pequeninos?

Larissa Fonseca explica que ouvir histórias possibilita uma enorme gama de aprendizagens para as crianças em todas as áreas do conhecimento. Ouvir histórias e vivenciar esse mundo imaginário traz aprendizagens significativas para as crianças nos âmbitos comportamental, físico, da expressividade, lógico, científico, da alfabetização, linguagem e também do conhecimento dado às experiências de vivências que as histórias proporcionam.

Um mundo de fantasia

O faz-de-conta, ou seja, a magia da literatura para pequenos não só desperta a curiosidade, como também contribui para o desenvolvimento de aspectos sociais e cognitivos na infância.

Diante disso, a pedagoga Eleusa Leardini, professora da Universidade S„o Francisco, no interior de São Paulo, que defendeu uma dissertação de mestrado sobre contar histórias na educação infantil defende a ideia de que é preciso estabelecer uma relação com o livro desde os seis meses, ou seja, a partir do momento em que a criança consegue se sentar sozinha, pois ela afirma que os bebês fazem uma pseudoleitura, ou seja, eles olham as imagens e criam a sua própria história.

De acordo com a especialista, meninas e meninos mais novos têm uma capacidade de compreensão limitada e a ficarão, nesse caso, ´ uma forma de conhecer e experimentar sensações que ainda não fazem parte do repertório infantil.

Sendo assim, ouvir histórias desde a primeira infância ajuda os pequenos a compreenderem o universo ao seu redor. Larissa Fonseca acredita que as histórias ampliam as possibilidades de vivência das crianças. Ao se inserir no mundo mágico da história, a criança se permite viver e reviver diferentes realidades, contextos, situações, fazer coisas que no mundo real ela não pode, criar, recriar, e com isso ela vai assimilando o universo ao seu redor, aprendendo sobre o mundo e tudo aquilo que dele faz parte.

Daniela Levy acrescenta comentando que nas histórias, o baixinho se identifica com os personagens – corresponde à fase vivida pela criança – e encontra ideias para solucionar questões, lidar com dificuldades que ele possa estar enfrentando. As histórias também podem auxiliar o pequeno a entender a realidade e o que os personagens vivenciam e sentem.

Mas, cá entre nós, além dos benefícios que as narrativas proporcionam para o desenvolvimento da criançada, não há como negar que elas também são uma ferramenta e tanto para estreitar os laços de afetividade entre quem conta e quem ouve, ou seja, entre pais e filhos.

Dando asas à imaginação

Por conta desse importante benefício, que é o estreitamento dos laços entre pais e filhos, a psicopedagoga Larissa Fonseca recomenda: o contato do pequeno com os livros e a leitura deve acontecer mesmo antes de seu nascimento quando ainda está na barriga da mãe, pois ele já começa a se familiarizar com os sons, melodias e sensações que lhe serão proporcionadas pela mãe leitora.

A psicopedagoga lembra que os livros e a literatura devem ser adequados para cada faixa etária. Como nos dois primeiros anos de vida, a criança não se interessa muito pela história que está sendo contada, seu interesse ser· despertado pelos sons e movimentos que o leitor fará. Dessa forma, livros de tecido, borracha e pano são os mais indicados para essa faixa etária. A criança pode manuseá-los com mais liberdade, o que já possibilita uma criação de vínculo importante com o livro e com o ato de ler, explica Larissa Fonseca.

Se você não iniciou essa relação de amor pela leitura e pelo mundo do faz-de-conta quando seu filhote ainda estava no seu ventre, n„o se preocupe. Sempre é tempo de começar!

Daniela Levy comenta que os pais devem despertar o interesse da criança por livros servindo como modelo. Pais que não tem o hábito da leitura dificilmente vão despertar em seus filhos esse interesse. É importante que façam da leitura um momento prazeroso.

Sendo assim, a psicóloga recomenda que os pais comprem livros adequados para a faixa etária da criança e estejam não somente ao lado da criança nesses momentos de leitura, mas também participando desse mundo do faz-de-conta, demonstrando interesse, respondendo às dúvidas e demonstrando prazer com esta atividade.

A criança que convive em um ambiente de leitores tende a apreciar esse ato e torna-se com mais facilidade apreciadora dessa prática. Por essa razão, o papel dos pais é fundamental para que a criança se torne uma leitora. São eles os principais modelos para as crianças, completa Larissa Fonseca.

Você, mamãe e papai, são fundamentais para que seu filhote tome gosto pela leitura e tenha a oportunidade de vivenciar esse faz-de-conta que tanto contribui para seu desenvolvimento.

A escolha certa

Para garantir que a diversão e o faz-de-conta est„o adequados para seu filhote, é necessário que os pais sigam alguns critérios para a escolha das histórias que serão contadas para a criança.

Para a psicóloga Daniela Levy, os pais devem selecionar histórias de acordo com o desenvolvimento infantil e o interesse da criança.

Já Larissa Fonseca dá a seguinte dica: as crianças até os dois anos interessam-se mais por gravuras, sons e gestos. Sendo assim, opte por histórias mais curtas e sem muitos detalhes. Aos dois anos a criança entra na fase em que acredita que tudo ao seu redor é inanimado e, por essa razão, aquela história contada é mesmo real. Seu interesse ainda está nas imagens.

Escolha histórias rápidas, com enredo simples e poucos personagens que se aproximam das vivências das crianças. Dos três aos seis anos acontece o predomínio dos contos de fadas e histórias de faz-de-conta. O conteúdo das histórias deve ser ainda breve e bem próximo ao cotidiano das crianças. A partir dos seis anos, a criança experimenta a fase de alfabetização e recomenda-se abordar histórias que explorem os sons das palavras com estruturas simples nas frases.

Seguindo essas dicas, a infância do seu anjinho será um mundo mágico que vai proporcionar a ele muita divers„o, aprendizado e desenvolvimento. Afinal, “entrou por um lado e saiu pelo outro e quem quiser que conte outro!”.

Daniela Levy é psicóloga formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É pós-graduada em psicologia clínica hospitalar pelo Instituto do Coração – InCor, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e em terapia cognitivo-comportamental também pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Larissa Fonseca é pedagoga formada pela Universidade de São Paulo. É pós-graduada em psicopedagogia, psicomotricidade, com especialização no universo do brincar e em psicanálise e educação.

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